MENTE ROBÓTICA
A brisa aparenta ser graciosa e cheia de leveza. As luzes penetram na superfície de forma angelical, flores e árvores colorem essa deslumbrante paisagem. Semelhante a uma pintura harmônica. Um rapaz encontra-se desacordado sobre o solo local. Discretamente, abre os seus olhos, os mesmos recebem um acréscimo colossal de claridade. Assustado, levanta-se rapidamente, porém é revelado um desconforto evidente em sua face.
_Hm, oque! Onde encontro-me?!
Confuso, o jovem observa atentamente o estranho e belíssimo local. De fato é realmente uma bela vista. Ele levanta-se, ainda admirado e preocupado com o seu aparecimento instantâneo ali. Então o rapaz decide procurar por algum sinal de vida. Certos minutos passam-se, não demora para o garoto avistar um ser no horizonte, sua silhueta era distinta do ser humano. Logo o menino diz:
_Ei, você ai! por favor pode me informar que local é esse?
Para a sua surpresa, aquele ser era robótico. Assombrado o jovem questiona a sua sanidade mental.
_Olá, prazer em conhecê-lo, fico feliz em saber que não estou sozinho aqui.
_Só posso estar ficando louco, a que ponto a tecnologia chegou!
_Infelizmente eu não sei que local é este, estamos na mesma situação rapaz.
Ainda chocado, o menino fica sem palavras. Somente encara a máquina. O mecanismo robótico o observa, e começa a andar para outra direção.
_ E-Espere, para onde o senhor (eu acho) está indo?
O robô vira-se.
_Bom, não quero ficar parado neste aclamado sol, caso o contrário minhas peças começarão a esquentar. E como você pode ver, logo ali existe uma encantadora Oliveira, gostaria de me acompanhar?
O jovem mesmo hesitante, decide aceitar, pois, não tinha outra opção melhor.
Juntas as duas figuras caminham silenciosas até a planta. O rapaz não consegue processar o que está ocorrendo, mas, por certos momentos ele deixa a brisa guia-lo. Ambos sentam embaixo da árvore. A quietação do robô era escandalosa, enquanto o humano estava eufórico.
_Qual é o seu nome garoto?
Exclama a máquina.
_Evander...
_Claramente gracioso, combina com você.
_Obrigado...e..o seu?
O robô liberta uma singela risada.
_Eu não tenho um nome oficial, somente um número. Entretanto gosto de ser chamado de Aron.
_Certo, Aron.
_ Então, como você veio parar aqui?
_Da mesma forma que você rapaz, instantâneo.
Novamente o silêncio abrange o ambiente.
_Você sabe como sair daqui? (Acredito que não.)
_Negativo. Enfim, você parece ser jovem, quantos anos tu tens?
_Eu? tenho 20 anos.
Evander é um homem magro e alto, com cabelos pretos ondulados, olhos fundos cansados e marrons. Mas, sua feição juvenil ainda destaca em sua face.
_Como imaginei, bastante jovem. Faz faculdade?
_Fazia, desisti faz pouco tempo.
_Física?
_Exatamente.
_Gostava?
_Como não gostar de uma matéria tão bela e desafiadora, como a física.
_Claro. Porque então desistir?
O menino por alguns segundos critica as perguntas pessoais que o robô faz comparando ele com Sócrates , no entanto perder a única companhia, seria o ingrediente inicial para a loucura. Respirando bruscamente ele responde:
_Não estava conseguindo um trabalho formal, a faculdade consumia meu tempo, como você deve imaginar o dinheiro logo começou a desaparecer, na falta desse mal da humanidade, morrer é o futuro.
_ ....
_Meus pais não me ajudam, por que eu não conto nada sobre isso para eles.
_Medo de decepcioná-los?
_É.
_O amor dos pais verdadeiros deve ser incondicional, se eles não forem capazes de compreende-lo não são pais verdadeiros. Talvez decepcionar seus pais seja algo muito doloroso. No entanto, geralmente é muito mais doloroso não atender às suas próprias expectativas. Afinal, a única pessoa que pode escolher como viver é você. Viver é decepcionar a sua família, os seus amigos, colegas, professores. A vida sem tristeza não existe, é um equilíbrio. A busca constante pela satisfação, e a consequente rejeição da dor e do sofrimento, nos move em direção a um ideal de felicidade, um sentimento passageiro, lampejos de momentos alegres guardados e valorizados em nossas memórias. Tal felicidade só pode ser percebida e apreciada quando a contrastamos com experiências tristes. Após vários dias chuvosos, por exemplo, valorizamos muito mais um dia ensolarado, e vice-versa. Sem a possibilidade de comparação com a desventura, portanto, perderíamos a noção de felicidade, uma vez que ambas se complementam. Quando nos deparamos com o sofrimento, em vez de acolhê-lo, de observá-lo, de aprender com ele, nós fugimos. Isso é errado!
Devemos mudar a essência do sofrimento de dor para aprendizado. A superação da dor, e não a fuga, leva à felicidade.
Evander aprecia a fala da pequena criatura, observando atentamente.
_E o seu trabalho, qual é?
_Sou funcionário de uma empresa de marketing.
_Gostaria de outro trabalho?
O jovem abre um sorriso melancólico.
_E como...sabe, o tempo não para, trabalho das 7 horas até ás 21:00. Não há descanso. Ninguém nunca para e te fala bom dia ou até um simples olá.
_Ei, olha para aquelas nuvens rapaz. Elas estão paradas?
_hm, claramente não.
_ E aquelas folhas?
_ também não.
_O mundo Evander é um fluxo infinito, todos os seres estão se movimentando, até os que aparentam estarem parados. Sendo assim é comum as pessoas não ligarem para a sua existência, você é nada para elas.
Essa é a realidade. Mas, o que custa você tentar ignorar este fator e procurar ter mais tempo? Você dificilmente consegue mudar um indivíduo com tempo suficiente imagina ainda sem tempo.
_Você tem razão...mas, minha existência então é insignificante? Já que para as pessoas eu sou um nada.
_Para elas sim. No entanto você pode encontrar um significado para a sua vida. Viva o momento, aprecie o ambiente. Esqueça o futuro e o passado. A vida é horrenda, mesmo assim existe a beleza. Existir basta, sua respiração já é incrível por si.
O vento desloca suavemente o cabelo do homem que analisa a natureza. As flores coloridas, o céu azul, a claridade solar, configurações singelas, mas, belas.
_Nesses momentos eu queria ter um botão de desligar, igual você Aron.
Ha, Ha. A fase adulta é maldita, como era bom ser criança. Sem preocupações financeiras, erros, carreiras. Uma verdadeira tempestade, me afogando as poucos na minha própria consciência.
_Sendo assim, me sinto honrado em ter o desligue. Lembre-se nenhuma tempestade dura para sempre. A fase adulta é uma fase da evolução. Ela realmente é desalmada, malevolente, odiosa, desumana...e é necessário. Aceita-la e despedir-se da fase infantil.
_Uma dúvida Aron, você atua em qual área do trabalho?
_Ajudo os seres humanos a carregar pacotes mais pesados. Não fico cansado pois sou uma máquina. Os seres humanos são os meus comandantes, todavia não sou completamente submisso. Sei que você não questionou minha relação com os seres humanos, mas, a sua feição exprime esse questionamento.
O garoto ficou pasmado, sempre ouvia as histórias que as máquinas iam dominar o mundo e exterminar os seres humanos. Inesperadamente algo cai sobre o as águas do lago que existe no ambiente natural.
_O que foi aquilo? Pergunta o jovem.
_ Vamos descobrir, vá na frente, estou indo logo atrás.
Ambos levantam do solo, Evander por ser mais rápida aproxima-se primeiro, e logo avista algo estranho. Era um corpo, ou melhor, ele mesmo! Perplexo o jovem encara-o, e grita pelo companheiro robô. Contudo Aron não estava respondendo os seus gritos, e sim andava calmamente em direção ao menino enquanto aquele local natural ficava totalmente branco.
_ARON, O QUE ESTÁ HAVENDO! COMO QUE ESSE CORPO SOU EU? E PORQUE TUDO ESTÁ FICANDO BRANCO !?ARON POR FAVOR CONTE-ME.
Totalizando o ambiente de branco, Aron olha para o jovem assustado e nervoso.
_Então Evander.Eu não sou o Aron, para ser mais especifico esse robô não existe.
_O QUE? COMO ASSIM, VOCÊ ESTÁ FICANDO LOUCO!
_Olha quem fala – ‘’ Aron’’ pensa.
_Na verdade, eu sou sua própria mente. Aquele mundo não existia.
_C-COMO ASSIM?
_Esse corpo realmente é o seu eu real. E você é a sua alma e eu a sua mente. Oh, tantas vezes eu tentei te alertar que isso (aponta para o corpo) não era correto, não faça isso, existi outra opção. Apesar disso você me deixou te controlar, assim como o Aron você é robô e eu sou a pessoa. A mente é capaz de controla-lo, mas, você não deve ser totalmente submisso. Drasticamente você escolheu esse fim. Você foi desligado por si.
_ NÃO, NÃOO.ISSO NÃO PODE SER VERDADE!
A figura olha uma última vez para o jovem, com o olhar frio, deixa escorrer uma única lágrima e afastasse-se.
_ ESPERE! NÃO ME DEIXE AQUI! POR FAVOR!!
E assim tudo transforma-se em vazio.
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