Pó de Plutão - Gabriela Eduarda De Morais Silva

terça-feira, 24 de outubro de 2023

 

No início de novembro, uma mulher caminha pelas ruas vazias da cidade. O vento levanta-lhe graciosamente os cabelos grisalhos e secos. Os seus olhos experimentam um abismo avermelhado profundo, como sangue. Os passos do organismo são eufóricos, sozinhos, tensos. A energia circula pelo corpo de Daisy à velocidade da luz, o pó está a fazer efeito no seu corpo. Sozinha, caminha e caminha, chegando à sua pequena casa. Abre a porta a tremer. A sua concha fecha-se e as suas lágrimas começam a correr suavemente.

Daisy: Vida, destrói-me, mata-me lentamente, por favor...

As lágrimas transformam-se rapidamente em raiva, raiva por ver que os amigos que ela pensava serem verdadeiros agora cortam relações. Olha à sua volta e vê apenas o sofá velho e feio, onde estava a televisão grande, bela, não há mais nada, apenas nada.

Daisy: Estou esgotada. Misericórdia de mim, vida, podes poupar-me hoje?

Calmamente, fecha os olhos. Mas, a sua barriga ronca, precisa de comer alguma coisa, à procura da sua comida, abre o frigorífico, e.... nada. O corpo dói-lhe, mas tem fome, por isso tem de voltar à rua outra vez. Luzes fluorescentes de uma loja, uma loja de doces, é esse o lugar. Seria rápido, o teu dinheiro não era muito. Daisy entra e dá-lhe as boas noites. A funcionária olha para a mulher exausta, pois esse estado era-lhe familiar.

Daisy faz o seu pedido e a senhora traz dois pedaços de bolo invés de um. Sorrindo, entrega à mulher um cartão e diz: "Sei que é um pedido de ajuda, vai ajudar-te, não estás sozinha". Espantada, Daisy olha atentamente para a figura, ela compreende-a. Agradece-lhe e sai da loja. Ao caminhar para o seu lar, decide ver o cartão que a mulher lhe deu.

Dizia: Clínica de recuperação para toxicodependentes. A sensação é estranha, ninguém tinha feito nada por Daisy. E um desconhecido fez algo por ela. Era a sua oportunidade, a oportunidade de voltar a viver.

Daisy: Já passou o ponto de retorno, quando é que vou aprender?

Os dias passavam, dias de agonia, de luta, de tristezas, dias de conquistas. Daisy encontrava-se todas as noites com os outros doentes, discutiam para escolher o filme, tinham medo dos filmes de terror, riam-se dos filmes de comédia. Finalmente sentia-se ela própria. O pó foi limpo.4 anos depois, o ciclo de Plutão terminou. O seu sangue é vermelho e não tem medo de viver. Diz adeus à sua antiga morada. Porque agora está no seu auge, está madura, prestes a cair. Ela é líquida e suave, pronta para florescer novamente.

Autora: Gabriela Edu.

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